Por Maria Clara Matos
fotos por Francisco Emolo
Com muita calma, mas também muita alegria, Waldemar Prado da Silva, estagiário em Educação Física, conduz a aula de fitness, que visa a auxiliar no tratamento da depressão. “Há um livro que diz ‘movimento gera alegria’ e é nisso que eu acredito”, revela. O curso faz parte de um programa criado por Eliane Barbanti, coordenadora do Núcleo de Psicologia do Esporte e Atividades Físicas (Nupsea) do Cepeusp, que busca, além de promover a melhoria de pessoas com depressão, ajudar no tratamento de dependentes químicos. A professora destaca que as substâncias produzidas durante a atividade física podem atuar como coadjuvantes dos tratamentos e auxiliam na remissão dos sintomas da depressão, assim como da abstinência.
Ricardo Moreno, médico do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas (Ipq-HC) e coordenador do Grupo de Doenças Afetivas (Gruda), explica “depressão é uma doença médica, que tem como base uma disfunção da química do cérebro em três sistemas de neurotransmissão chamados de noradrenalina, serotonina e dopamina. Essa disfunção é responsável pelos sinais e sintomas da depressão”.
O especialista atenta para alguns sintomas da doença como humor depressivo ou irritável, tristeza e angústia; pensamentos ruins e pessimistas; alucinações; perda de apetite, sendo que em 15% dos casos pode haver aumento do apetite; alterações motoras, como a lentificação dos movimentos; insônia e possibilidade de “hipersônia” novamente em 15% dos pacientes e dores no corpo inespecíficos nos braços, nas pernas e na barriga.
Ele enfatiza que o exercício ajuda na depressão, porque além de funcionar como incentivo, também estimula o cérebro na produção de neurotransmissores. Isso provoca sensação de bem-estar no paciente. Martha Aldred revela que já melhorou muito com a ajuda dos exercícios. Mas adverte que as atividades físicas não podem sem ser utilizadas como antidepressivos, uma vez que sua atuação não se sustenta ao longo do tempo: “Parou o exercício, voltam os sintomas, diferentemente do que ocorre com os medicamentos, em que o paciente o toma uma vez ao dia e os efeitos se prolongam. Após o tratamento da depressão, suspende-se a medicação e os sintomas não voltam.”
No que se refere ao auxílio do exercício no tratamento a dependência química, André Malbergier, psiquiatra coordenador do Grupo Interdisciplinar de Estudos do Álcool e Drogas (Grea-Ipq-HC-FMUSP), afirma que a maior parte das pesquisas relacionadas ao esporte refere-se à dependência da nicotina. “Os trabalhos mostram que a atividade física como um todo pode ajudar nos resultados daqueles que pretendem parar de fumar.” Já em relação às demais drogas a recomendação é mais indireta, explica Malbergier. Mas ele não deixa de salientar que se o paciente é uma pessoa sedentária, obesa, ou tem dificuldade de mobilidade, os exercícios físicos só podem auxiliar no tratamento.
desempenho, mas sim o trabalho em grupo, conversas e apoio”, enfatiza Waldemar Prado Ferreira".
Para os pacientes envolvidos nesse tipo de trabalho, o Cepeusp possui um atendimento diferenciado. Eliane Barbanti realiza entrevistas com os candidatos e de acordo com cada caso s encaminha para as diversas modalidades oferecidas. “Procuramos indicar a (atividade) que melhor possibilita sua melhora de acordo com o psicodiagnóstico.” Segundo a especialista, “existe uma readaptação da área cerebral em que as drogas atuam e nessas áreas o exercício irá atuar também”.
Eduardo Luiz da Rocha César, educador físico especialista em dependência química do Grea-Ipq-FMUSP, destaca “quando bem direcionada e embasada em parâmetros científicos, atua como elo terapêutico importante por intervir no corpo do paciente durante todo o processo de recuperação”. Ele ainda explica que as transformações pelas quais passa o corpo do paciente “têm relação direta com a auto-estima melhorada, assim como, uma liberação durante e após os exercícios de substâncias responsáveis pela sensação de prazer”.
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