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sábado, 11 de abril de 2015

Depressão: Benefícios do exercício físico

Na grande maioria das vezes os sentimentos depressivos estão associados à sensação de stress, o que leva algumas pessoas a refugiarem-se e a aliviar a sua ansiedade no excesso de comida. O que conduz a um ciclo vicioso tremendamente negativo. Isto porque a pessoa fica propensa a uma alteração da sua autoimagem e consequentemente é afetada na sua autoestima. Mas, qual a razão para que isto aconteça?
Muitas pessoas com depressão têm uma tendência para se autorregularem através  da comida, eu acho que é uma das razões que está contribuindo para o problema da obesidade. A combinação do aumento de stress, depressão e ansiedade cria uma necessidade premente das pessoas reduzirem estes estados de angustia, e procuram a autorregulação (alívio), através da ingestão de alimentos. Então, se as pessoas deprimidas começarem a exercitar-se ao invés de ingerirem alimentos em excesso, o que é que acontece fisiologicamente?

BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

Há toda uma série de coisas que acontecem quando começamos a fazer exercício físico.  Quando nos propomos a movimentarmo-nos e a fazer exercício físico, ocorre um estado de excitação geral do corpo. Esta ativação geral, inclui diversos sistemas do corpo. Desde a ativação do metabolismo cardiovascular, vários tipos de alterações endócrinas no cérebro, vários tipos de alterações hormonais e mudanças fisiológicas acontecem um pouco por todo o organismo. Este tipo de mobilização do corpo, faz com que existam igualmente algumas alterações no nosso cérebro, contribuindo para alterações positivas nos estados de humor. O que acontece psicologicamente quando as pessoas começam a exercitar-se?
Depende do grau e nível de exercício. Com o exercício físico moderado, por exemplo fazendo caminhadas curtas de 5 ou 10 minutos, verifica-se alterações significativas em alguns estados de humor primário, materializando-se no aumento de energia. Secundariamente , às vezes verifica-se também uma redução da tensão.
Com o exercício mais intenso, por exemplo, de uma hora de exercícios aeróbicos mais ritmados, há uma redução temporária da energia, verificando-se também uma redução da tensão, mas, muitas vezes, após a recuperação do treino, ocorre um ressurgimento da energia. Dá-se um processo de efeito retardado do exercício físico. Depois da atividade, a pessoa sente-se cansada, com menos energia, mas por um efeito de adaptação, e após um tempo de recuperação, a pessoa sente-se com mais energia e mais resistente. Promovendo o impulso para a acção. Mas  as pessoas deprimidas têm que exercitar-se intensamente para conseguirem um impulso no seu  humor?
Não, mesmo com exercícios de baixa intensidade, verificam-se melhorias muito significativas. Caminhar a um ritmo moderado, e outras vezes mais rápido, por um tempo curto (5- 10 minutos), podendo estes intervalos serem repetidos depois de um períodos de descanso (2-3 ,minutos) e depois nova caminhada de (5-10 minutos), os benefícios irão fazer-se sentir rapidamente,  há um aumento significativo na energia e isto pode ser sentido quase imediatamente.

MESMO BAIXAS INTENSIDADES DE EXERCÍCIO FÍSICO ORIGINAM BENEFÍCIOS

Quando as pessoas estão severamente deprimidas e diagnosticadas com depressão clínica, é claro que pode não ser tão eficaz como seria para as pessoas com depressão moderada, mas ainda assim terá um efeito bastante significativo. Se num estado deprimido a falta de motivação para a atividade física é um sintoma incapacitante, como é que as pessoas com depressão conseguem começar a exercitar-se?
É um problema com bastante relevância, porque quando você está deprimido, você não tem energia. Quando você pensa sobre ter de fazer exercício físico, e sente que não tem energia para o iniciar, emerge um sentimento de incapacidade e de paralisia da vontade, o que se torna paradoxal. Aquilo que mais necessita fazer, é aquilo que menos vontade tem para realizar. O que eu sugiro, é que comece muito devagar, pouco a pouco, saia de casa e caminhe, dê  alguns passos à volta da sua casa, ou numa rua perto. Assim que comece a movimentar-se um pouco, irá começar a sentir-se diferente, irá começar a sentir pequenas alterações de energia e vontade, o que lhe permite pouco a pouco ir aumentando a distância e tempo da sua caminhada ou outro tipo de exercício físico.
A investigação que existe na área é credível o suficiente para mostrar os efeitos positivos do exercício físico para melhoria da depressão? Por outras palavras, os psiquiatras, psicólogos devem devem prescrever a prática do exercício físico para a recuperação e tratamento da depressão?

O EXERCÍCIO FÍSICO É VITAL NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO

Absolutamente, eu tenho a plena convicção que qualquer tipo de profissional que esteja a ajudar uma pessoa com depressão ou (deprimida), uma coisa importante que deve fazer é colocá-la ou incentivá-la a aderir a um programa de exercício físico. O exercício é vital. Caso, esteja a ser acompanhado por um profissional no tratamento da depressão, se não lhe foi prescrito a prática de exercício físico ou se não foi incentivado a iniciar um programa de exercício físico, aconselho-o a pensar no assunto, e/ou a discutir a ideia com o profissional que o acompanha.
O exercício deve ser parte integral de um plano de tratamento para a depressão. A utilização exclusiva de exercícios físicos para a depressão pode ser um problema, por várias razões, pelo que é desaconselhado, reduzir o tratamento apenas à prática de exercício físico. Mas ainda assim, deve ser parte de um plano completo de tratamento. Acredito, por experiência da minha prática no tratamento a pessoas que sofrem de depressão, que a prática de exercício físico aumenta a eficácia do tratamento, e consequente a recuperação da depressão, desde que devidamente incluindo com as outras estratégias psicológicas e comportamentais do programa.

VAMOS A FATOS

A pesquisa mostra que o exercício:

  • Tem efeitos positivos em alguns neurotransmissores tal com alguns medicamentos antidepressivos.
  • Produz substâncias químicas no cérebro, chamadas de “endorfinas”, que promovem a sensação de bem-estar e satisfação.
  • Liberta a tensão nos músculos. A tensão muscular  contribui para a dor relacionados com a depressão e insônia.
  • Reduz os níveis do hormonais do stress, como o cortisol, aliviando os sentimentos de ansiedade e agitação.
  • Aumenta a temperatura do corpo, promovendo a sensação de relaxamento. Produz efeitos calmantes.
Além desses benefícios fisiológicos, a prática do exercício físico pode promover também as seguintes alterações positivas,  psicológicas e emocionais:
  • Distração. Um dos efeitos mais debilitantes da depressão é que ela faz com que você se concentre no que está errado e levando ao a persistir no pensamento negativo. O exercício físico leva a que você se concentre  noutra coisa durante a sua prática. Com a abordagem certa, pode ajudá-lo a encontrar algum prazer, destacando-se positivamente dos seus problemas.
  • Confiança. A desesperança, desamparo, fadiga e depressão, levam com frequência as pessoas a abandonar as suas atividades normais, levando a uma perda de autoconfiança. Ao definir e atingir uma meta, como uma pequena quantidade de exercício a por dia, você pode começar a reconstruir a confiança e auto-eficácia. Isto porque percebe que afinal consegue fazer alguma coisa para melhorar a sua condição.
  • Auto-respeito. Como as pessoas se afundam mais com a inatividade, elas começam sentir-se inúteis e sem valor, podendo mesmo vir a desprezarem-se a si mesmo. As pessoas deprimidas por vezes podem recorrer ao abuso de drogas ou outros comportamentos autodestrutivos para gerir estes sentimentos de incapacidade e depreciativos. O exercício físico pode oferecer uma alternativa positiva para estas estratégias negativas de enfrentamento. Aproveitando o seu tempo para fazer algo de positivo, pode ajudar-se a si mesmo todos os dias,  pode ajudar-se a  reconectar-se com a parte de você (sim, porque certamente você quer melhorar)  que quer ser saudável e produtiva.
Mas se você já está deprimido, tal como já referi, o exercício físico pode ser a última coisa que você quer fazer. Você pode sentir-se cansado e pessimista, pensando que o exercício não será capaz de ajudá-lo. Estes pensamentos são normais para pessoas com depressão, fazem parte da “batalha mental” que você vai enfrentar quando se propuser ou iniciar um programa de exercício físico. Como posso então superar estes pensamentos?

ORIENTAÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO NA DEPRESSÃO

Escolha o lado do seu bem-estar
Você pode vencer a inércia mental e física que muitas vezes o impede de fazer o que pode para se ajudar a si mesmo. A primeira coisa que tem a fazer é decidir de que lado você quer estar: no lado do seu próprio bem-estar, ou do lado da sua depressão. Isso soa como uma decisão simples e óbvia, mas quando se trata de colocar os ténis e fato de treino e fazer realmente alguma coisa, pode exigir um verdadeiro ato de fé, especialmente se você já tentou começar a exercitar-se no passado e fracassou. A depressão faz com que se foque sobre o quão mal você se sente, como tudo parece perdido, e o quão patético e não-merecedor você é por não poder fazer o que  precisa ser feito. Esses sentimentos e pensamentos podem parecer mais “reais” e “honestos” para você, do que qualquer coisa positiva que possa dizer para si mesmo.
Quando você está lutando contra um adversário tão poderoso como a depressão, é preciso conhecer o inimigo e as suas fraquezas. É importante saber como lidar com a depressão. Use essas informações (como alarmes) para escolher estratégias eficazes e contribuir para o seu bem-estar. Como os sintomas mais preocupantes da depressão são emocionais e cognitivos, as pessoas muitas vezes esquecem que a forma como elas pensam e sentem as coisas, está diretamente relacionado com o que está acontecendo, quimicamente, no seu cérebro e no seu corpo.
Encontre uma maneira de se distrair dos pensamentos, o tempo suficiente para conseguir praticar a sua sessão de exercícios iniciais. Para fazer isso, lembre-se que os pensamentos negativos são a sua depressão a falar (a manifestar-se), não a parte de você que quer ser saudável e se preocupa com o que lhe acontece. Quando os pensamentos negativos tomam conta de si, pare, respire fundo, e tome a decisão de estar do seu próprio lado, faça isso desta vez, mesmo que você não ache que isso vai ajudar.
exercício físico

Entre em ação e exercite-se

Agora que você já sabe porque o exercício é tão importante para superar a depressão, e os benefícios associados. Mas, tal como já referi anteriormente,  como é que você pode começar, quando as coisas mais simples, como tomar banho ou vestir-se de manhã, parecem ser um trabalho de Hércules?
A resposta é: Just do it! (simplesmente faça).  Lembre-se, você já decidiu que vai estar do seu próprio lado. Isto é, você pode decidir o que é melhor para si, mesmo não lhe apetecendo. A questão aqui não é se você pode ou não reunir a força de vontade para fazer exercício físico, é sobre dar a si mesmo uma boa oportunidade para ver se pode realmente ajudar.

Para facilitar isso, apresento algumas sugestões para ajudá-lo a tirar o máximo proveito do seu programa de exercício físico:

  • Converse com o seu profissional de saúde antes de iniciar um programa de exercícios. Encontre atividades que você gosta (ou que você gostava, quando não estava deprimido). Pode ser passear o cão, brincar com os filhos, dar um passeio de bicicleta, ir a pé ao supermercado, trabalhar no jardim, qualquer coisa que anteriormente lhe dava prazer e alegria. A última coisa que deve fazer é exercer pressão sobre a prática de exercício físico ao ponto de lhe parecer mais outra coisa que você “deve” fazer. O exercício deve ser encarado como uma as boas coisas do dia.
  • Estabeleça metas razoáveis. Você não tem que comprometer-se a 60 minutos de exercício físico intenso todos os dias. As pesquisas indicam que pelo menos 30 minutos por dia resulta em benefícios elevados no alívio da depressão, mas você não tem que começar com grande intensidade. Comece com um nível de duração e intensidade que seja confortável para si, em que você tenha a certeza que  pode gerir facilmente na maioria dos dias, e faça.
  • Identifique os potenciais problemas e barreiras com antecedência. Crie um “Plano B” para lidar com essas barreiras antes que elas aconteçam. Se o seu maior problema está com que você não se exercite, pense sobre como é que pensa quando isso não acontece, e tente descobrir como fazer isso acontecer com mais frequência. Se você precisa de alguém para às vezes lhe dar um empurrãozinho, arranje um colega para o exercício físico ou alguém que você pode chamar para uma conversa animada.  Se você gosta de praticar o exercício físico ao ar livre, mas o clima é inconstante, encontre algumas alternativas para que se possa exercitar em casa.
  • Prepare-se para os retrocessos e recaídas. O exercício regular nem sempre é fácil ou divertido. É comum por vezes quebrar com o programa que estabeleceu e pensar que você é um fracasso, ou de que nada funciona. Mas não desanime, não conseguir uma vez, não quer dizer que tudo está perdido, foi apenas uma desmotivação momentânea. Dê a si mesmo todo o crédito pelas vezes que você consegue fazer o exercício e, principalmente, os momentos em que consegue voltar a exercitar-se, depois de parar um ou dois treinos. Mantenha um registro escrito dessas vezes, com algumas notas breves sobre a forma como você se sentiu depois, e olhe para o que escreveu quando esses sentimentos negativos surgirem novamente.
Se você for como a maioria das pessoas que pretendem superar a depressão, acreditando (e fazendo) a maioria das coisas  aqui apresentadas, vai sentir-se um pouco estranho e desconfortável no início, especialmente se você já lidou com a depressão crônica por um longo tempo. Mas se conseguir  reestruturar o seu pensamento de forma a acreditar que as coisas podem mudar para melhor, o resultado vai provar que os seus esforços valem bem a dedicação.
Votos de uma boa recuperação.
Abraço

Autor


 Licenciado em Psicologia, exerce em clínica privada. É também preparador mental de atletas e equipas desportivas, treinador de atletismo e formador na área do rendimento desportivo.
Disponível em Escola psicologia 
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