Por Miguel Lucas em Terapias Psicológicas
A depressão é um problema psicológico que drena grande parte da energia, impedido que a pessoa tenha
força de vontade
para realizar as tarefas do seu dia-a-dia. A mais simples das
atividades como ir ao supermercado, limpar o quintal, ou fazer
exercício pode tornar-se assustadora. A perda de energia é uma das
principais características da
depressão.
Desta forma a prática do exercício físico é uma das melhores maneiras
das pessoas deprimidas melhorarem o seu humor. Pode parecer paradoxal,
mas a prática do exercício físico gera energia.
Na grande maioria das vezes os sentimentos depressivos estão associados à
sensação de stress, o que leva algumas pessoas a refugiarem-se e a
aliviar a sua
ansiedade
no excesso de comida. O que conduz a um ciclo vicioso tremendamente
negativo. Isto porque a pessoa fica propensa a uma alteração da sua autoimagem e consequentemente é afetada na sua autoestima.
Mas, qual a razão para que isto aconteça?
Muitas pessoas com
depressão
têm uma tendência para se autorregularem através da comida, eu acho
que é uma das razões que está contribuindo para o problema da
obesidade. A combinação do aumento de stress,
depressão e
ansiedade
cria uma necessidade premente das pessoas reduzirem estes estados de
angustia, e procuram a autorregulação (alívio), através da ingestão de
alimentos.
Então, se as pessoas deprimidas começarem a
exercitar-se ao invés de ingerirem alimentos em excesso, o que é
que acontece fisiologicamente?
BENEFÍCIOS DO EXERCÍCIO FÍSICO NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO
Há toda uma série de coisas que acontecem quando começamos a fazer
exercício físico. Quando
nos propomos a movimentarmo-nos e a fazer exercício físico, ocorre um
estado de excitação geral do corpo. Esta ativação geral, inclui diversos
sistemas do corpo. Desde a ativação do metabolismo cardiovascular,
vários tipos de alterações endócrinas no cérebro, vários tipos de
alterações hormonais e mudanças fisiológicas acontecem um pouco por todo
o organismo. Este tipo de mobilização do corpo, faz com que existam
igualmente algumas alterações no nosso cérebro, contribuindo para
alterações positivas nos estados de humor.
O que acontece psicologicamente quando as pessoas começam a exercitar-se?
Depende
do grau e nível de exercício. Com o exercício físico moderado, por
exemplo fazendo caminhadas curtas de 5 ou 10 minutos, verifica-se
alterações significativas em alguns estados de humor primário,
materializando-se no aumento de energia. Secundariamente , às
vezes verifica-se também uma redução da tensão.
Com
o exercício mais intenso, por exemplo, de uma hora de exercícios
aeróbicos mais ritmados, há uma redução temporária da energia,
verificando-se também uma redução da tensão, mas, muitas vezes, após a
recuperação do treino, ocorre um ressurgimento da energia. Dá-se um
processo de efeito retardado do
exercício físico.
Depois da atividade, a pessoa sente-se cansada, com menos energia, mas
por um efeito de adaptação, e após um tempo de recuperação, a pessoa
sente-se com mais energia e mais resistente. Promovendo o impulso para a
acção.
Mas as pessoas deprimidas têm que exercitar-se intensamente para conseguirem um impulso no seu humor?
Não,
mesmo com exercícios de baixa intensidade, verificam-se melhorias muito
significativas. Caminhar a um ritmo moderado, e outras vezes mais
rápido, por um tempo curto (5- 10 minutos), podendo estes intervalos
serem repetidos depois de um períodos de descanso (2-3 ,minutos) e
depois nova caminhada de (5-10 minutos), os benefícios irão fazer-se
sentir rapidamente, há um aumento significativo na energia e isto pode
ser sentido quase imediatamente.
MESMO BAIXAS INTENSIDADES DE EXERCÍCIO FÍSICO ORIGINAM BENEFÍCIOS
Quando as pessoas estão severamente
deprimidas e diagnosticadas com depressão clínica, é claro que pode não
ser tão eficaz como seria para as pessoas com depressão moderada, mas
ainda assim terá um efeito bastante significativo.
Se num estado deprimido a falta de motivação para a atividade física é um sintoma incapacitante, como é que as pessoas com depressão conseguem começar a exercitar-se?
É
um problema com bastante relevância, porque quando você está deprimido,
você não tem energia. Quando você pensa sobre ter de fazer exercício
físico, e sente que não tem energia para o iniciar, emerge um sentimento
de incapacidade e de paralisia da vontade, o que se torna paradoxal.
Aquilo que mais necessita fazer, é aquilo que menos vontade tem para
realizar. O que eu sugiro, é que comece muito devagar, pouco a
pouco, saia de casa e caminhe, dê alguns passos à volta da sua casa, ou
numa rua perto. Assim que comece a movimentar-se um pouco, irá começar a
sentir-se diferente, irá começar a sentir pequenas alterações de
energia e vontade, o que lhe permite pouco a pouco ir aumentando a
distância e tempo da sua caminhada ou outro tipo de exercício físico.
A investigação que existe na área é credível o suficiente para mostrar os efeitos positivos do
exercício físico para melhoria da depressão?
Por outras palavras, os psiquiatras, psicólogos devem devem prescrever a prática do exercício físico para a recuperação e tratamento da depressão?
O EXERCÍCIO FÍSICO É VITAL NO TRATAMENTO DA DEPRESSÃO
Absolutamente, eu tenho a plena convicção que qualquer tipo de profissional que esteja a ajudar uma pessoa com
depressão ou
(deprimida), uma coisa importante que deve fazer é colocá-la ou
incentivá-la a aderir a um programa de exercício físico. O exercício é
vital. Caso, esteja a ser acompanhado por um profissional no
tratamento da depressão,
se não lhe foi prescrito a prática de exercício físico ou se não foi
incentivado a iniciar um programa de exercício físico, aconselho-o a
pensar no assunto, e/ou a discutir a ideia com o profissional que o
acompanha.
O exercício deve ser parte integral de um plano de
tratamento para a depressão. A utilização exclusiva de exercícios físicos para a
depressão
pode ser um problema, por várias razões, pelo que é desaconselhado,
reduzir o tratamento apenas à prática de exercício físico. Mas
ainda assim, deve ser parte de um plano completo de tratamento.
Acredito, por experiência da minha prática no tratamento a pessoas que
sofrem de depressão, que a prática de exercício físico aumenta a
eficácia do tratamento, e consequente a recuperação da depressão, desde
que devidamente incluindo com as outras estratégias psicológicas e
comportamentais do programa.
VAMOS A FATOS
A pesquisa mostra que o exercício:
-
Tem efeitos positivos em alguns neurotransmissores tal com alguns medicamentos antidepressivos.
-
Produz substâncias químicas no cérebro, chamadas de “endorfinas”, que promovem a sensação de bem-estar e satisfação.
-
Liberta a tensão nos músculos. A tensão muscular contribui para a dor relacionados com a depressão e insônia.
-
-
Aumenta a temperatura do corpo, promovendo a sensação de relaxamento. Produz efeitos calmantes.
Além desses
benefícios fisiológicos, a prática do exercício físico pode promover
também as seguintes alterações positivas, psicológicas e emocionais:
-
Distração.
Um dos efeitos mais debilitantes da depressão é que ela faz com que você
se concentre no que está errado e levando ao a persistir no pensamento
negativo. O exercício físico leva a que você se concentre noutra coisa
durante a sua prática. Com a abordagem certa, pode ajudá-lo a encontrar
algum prazer, destacando-se positivamente dos seus problemas.
-
Confiança. A
desesperança, desamparo, fadiga e
depressão, levam com frequência as pessoas a abandonar as suas atividades normais, levando a uma perda de autoconfiança. Ao definir e atingir uma meta, como uma pequena quantidade de exercício a por dia, você pode começar a reconstruir a
confiança e auto-eficácia. Isto porque percebe que afinal consegue fazer alguma coisa para melhorar a sua condição.
-
Auto-respeito.
Como as pessoas se afundam mais com a inatividade, elas começam
sentir-se inúteis e sem valor, podendo mesmo vir a desprezarem-se a si
mesmo. As pessoas deprimidas por vezes podem recorrer ao abuso de drogas
ou outros comportamentos autodestrutivos para gerir estes sentimentos
de incapacidade e depreciativos. O exercício físico pode oferecer uma
alternativa positiva para estas estratégias negativas de
enfrentamento. Aproveitando o seu tempo para fazer algo de positivo,
pode ajudar-se a si mesmo todos os dias, pode ajudar-se a
reconectar-se com a parte de você (sim, porque certamente você quer
melhorar) que quer ser saudável e produtiva.
Mas se você já está deprimido,
tal como já referi, o exercício físico pode ser a última coisa que você
quer fazer. Você pode sentir-se cansado e pessimista, pensando que o
exercício não será capaz de ajudá-lo. Estes pensamentos são normais para
pessoas com depressão, fazem parte da “batalha mental” que você vai
enfrentar quando se propuser ou iniciar um programa de exercício físico. Como posso então superar estes pensamentos?
ORIENTAÇÕES PARA A PROMOÇÃO DO EXERCÍCIO FÍSICO NA DEPRESSÃO
Escolha o lado do seu bem-estar
Você pode vencer a inércia
mental e física que muitas vezes o impede de fazer o que pode para se
ajudar a si mesmo. A primeira coisa que tem a fazer é decidir de que
lado você quer estar: no lado do seu próprio bem-estar, ou do lado
da sua depressão. Isso soa como uma decisão simples e óbvia, mas quando
se trata de colocar os ténis e fato de treino e fazer realmente alguma
coisa, pode exigir um verdadeiro ato de fé, especialmente se você já
tentou começar a exercitar-se no passado e fracassou. A depressão faz
com que se foque sobre o quão mal você se sente, como tudo parece
perdido, e o quão patético e não-merecedor você é por não poder fazer o
que precisa ser feito. Esses sentimentos e pensamentos podem parecer
mais “reais” e “honestos” para você, do que qualquer coisa positiva
que possa dizer para si mesmo.
Quando você está lutando contra um adversário tão poderoso como a
depressão, é preciso conhecer o inimigo e as suas fraquezas. É importante
saber como lidar com a depressão.
Use essas informações (como alarmes) para escolher estratégias eficazes
e contribuir para o seu bem-estar. Como os sintomas mais preocupantes
da depressão são emocionais e cognitivos, as pessoas muitas vezes
esquecem que a forma como elas pensam e sentem as coisas, está
diretamente relacionado com o que está acontecendo, quimicamente, no seu
cérebro e no seu corpo.
Encontre uma maneira de se distrair dos
pensamentos, o tempo suficiente para conseguir praticar a sua sessão de
exercícios iniciais. Para fazer isso, lembre-se que os pensamentos
negativos são a sua depressão a falar (a manifestar-se), não a parte de
você que quer ser saudável e se preocupa com o que lhe acontece. Quando
os pensamentos negativos tomam conta de si, pare, respire fundo, e tome
a decisão de estar do seu próprio lado, faça isso desta vez, mesmo que
você não ache que isso vai ajudar.
Entre em ação e exercite-se
Agora que você já sabe porque o exercício é tão importante para superar a depressão, e os benefícios associados. Mas,
tal como já referi anteriormente, como é que você pode começar, quando
as coisas mais simples, como tomar banho ou vestir-se de manhã, parecem
ser um trabalho de Hércules?
A resposta é: Just do it! (simplesmente
faça). Lembre-se, você já decidiu que vai estar do seu próprio lado.
Isto é, você pode decidir o que é melhor para si, mesmo não lhe
apetecendo. A questão aqui não é se você pode ou não reunir a
força de vontade para fazer exercício físico, é sobre dar a si mesmo uma boa oportunidade para ver se pode realmente ajudar.
Para facilitar isso, apresento algumas sugestões para ajudá-lo a tirar o máximo proveito do seu programa de exercício físico:
-
Converse com o seu profissional de saúde antes de iniciar um programa de exercícios.
Encontre atividades que você gosta (ou que você gostava, quando não
estava deprimido). Pode ser passear o cão, brincar com os filhos, dar um
passeio de bicicleta, ir a pé ao supermercado, trabalhar no jardim,
qualquer coisa que anteriormente lhe dava prazer e alegria. A última
coisa que deve fazer é exercer pressão sobre a prática de exercício
físico ao ponto de lhe parecer mais outra coisa que você “deve” fazer. O
exercício deve ser encarado como uma as boas coisas do dia.
-
Estabeleça metas razoáveis.
Você não tem que comprometer-se a 60 minutos de exercício físico
intenso todos os dias. As pesquisas indicam que pelo menos 30 minutos
por dia resulta em benefícios elevados no alívio da depressão, mas você
não tem que começar com grande intensidade. Comece com um nível de
duração e intensidade que seja confortável para si, em que você tenha
a certeza que pode gerir facilmente na maioria dos dias, e faça.
-
Identifique os potenciais problemas e barreiras com antecedência. Crie
um “Plano B” para lidar com essas barreiras antes que elas aconteçam.
Se o seu maior problema está com que você não se exercite, pense sobre
como é que pensa quando isso não acontece, e tente descobrir como fazer
isso acontecer com mais frequência. Se você precisa de alguém para às
vezes lhe dar um empurrãozinho, arranje um colega para o exercício
físico ou alguém que você pode chamar para uma conversa animada. Se
você gosta de praticar o exercício físico ao ar livre, mas o clima é
inconstante, encontre algumas alternativas para que se possa exercitar
em casa.
-
Prepare-se para os retrocessos e recaídas.
O exercício regular nem sempre é fácil ou divertido. É comum por
vezes quebrar com o programa que estabeleceu e pensar que você é um
fracasso, ou de que nada funciona. Mas não desanime, não conseguir uma
vez, não quer dizer que tudo está perdido, foi apenas uma desmotivação
momentânea. Dê a si mesmo todo o crédito pelas vezes que você consegue
fazer o exercício e, principalmente, os momentos em que consegue voltar a
exercitar-se, depois de parar um ou dois treinos. Mantenha um registro
escrito dessas vezes, com algumas notas breves sobre a forma como você
se sentiu depois, e olhe para o que escreveu quando esses sentimentos
negativos surgirem novamente.
Se você for como a maioria das pessoas que pretendem
superar a depressão,
acreditando (e fazendo) a maioria das coisas aqui apresentadas, vai
sentir-se um pouco estranho e desconfortável no início, especialmente se
você já lidou com a depressão crônica por um longo tempo. Mas se
conseguir reestruturar o seu pensamento de forma a acreditar que as
coisas podem mudar para melhor, o resultado vai provar que os seus
esforços valem bem a dedicação.
Votos de uma boa recuperação.
Abraço
Licenciado
em Psicologia, exerce em clínica privada. É também preparador mental de
atletas e equipas desportivas, treinador de atletismo e formador na
área do rendimento desportivo.
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