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quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Agressão nos esportes


A sociedade moderna convive, diuturnamente, com grupos de seres humanos que apresentam altos índices de agressividade. Antropólogos, filósofos, psicólogos e cientistas sociais têm se debruçado sobre a questão da agressividade humana, investigando, principalmente, a sua natureza . Inata ou aprendida? Esta questão foi formulada no início do século, na tentativa de orientar os estudos sobre a agressão, e permeou as principais investigações sobre o tema.
Os psicólogos definem agressão como "qualquer forma de comportamento direcionado objetivando lesionar ou machucar outro ser vivo que esteja interessado em evitar tal comportamento". (Baron, 1997).
Analisando essa definição, chegou-se a quatro critérios de agressão: agressão é um comportamento humano; envolve lesões e danos; é direcionada a outra pessoa; e envolveintenções e motivos.
Teorias da agressão
Primeiro a teoria de instintos e impulsos, que parte do principio de que agressão representa um instinto inato, espontâneo e cumulativo, o qual provoca no organismo humano uma cumulação contínua de energia agressiva, que deve ser descarregada de vez em quando.
Em segundo lugar podemos citar a teoria frustração-agressão, que parte da hipótese que vivências de fracasso (frustrações) provocam agressões. Frustração é definida "como um impedimento de uma atividade atual dirigida a uma meta". Neste caso a conduta agressiva depende de alguns fatores como: tendências agressivas; intensidade das frustrações passadas; quantidade e intensidade das frustrações; e causas das frustrações.
Por fim, podemos citar a teoria da aprendizagem social, que enfatiza que o comportamento agressivo é aprendido e adquirido pela observação de comportamentos agressivos e imitação de modelos agressivos.
As relações de interdependência existentes mantêm viva a proximidade entre o nível de violência permitida na sociedade e as práticas esportivas. Contudo, o que caracteriza o esporte moderno para Elias (1994) são as aplicações das regras, coibindo toda e qualquer ação mais violenta.
Mesmo em modalidades esportivas nas quais o contato físico é mais freqüente, como o boxe e o jiu-jítsu, as regras pré-determinam muitas das ações dos praticantes.
Por exemplo, quando um boxeador faz um ato não permitido pela regra, como aplicar um golpe abaixo da linha da cintura, automaticamente o atleta é punido com perda de pontos. Para muitos, o contato físico entre os praticantes caracteriza-se como ato violento, mas é socialmente permitido; para outros se trata apenas de uma modalidade esportiva.
Além desta relação entre as práticas esportivas e suas regras, observamos que o nível e as formas da violência na atualidade tomam outros rumos, principalmente se considerarmos que a violência física está cada vez mais monopolizada pelo Estado. Na medida em que esse monopólio é estável e eficaz, a divisão do trabalho pode aumentar, isto é, as cadeias de interdependência se alargam. Com o aumento da complexidade das relações sociais, se torna cada vez mais necessário um controle efetivo por parte do Estado. O monopólio da violência por parte do Estado e o alargamento das cadeias de interdependência exercem um processo civilizador. Isso porque o Estado tem a capacidade de reprimir atos violentos, bem como o aumento da cadeia de interdependência exige um maior autocontrole dos indivíduos. Uma sociedade assim é altamente competitiva, já que esta complexa divisão do trabalho gera a possibilidade de que os papéis sejam fixados muito mais pelos resultados do que meramente por atribuições. Fernando (2003)
Este aumento da competição leva a um aumento da rivalidade e da agressividade. Porém, os padrões vigentes na sociedade, bem como o monopólio do Estado em utilizar a força física, não comportam as ações diretamente mais violentas. A violência então se canaliza para contextos sociais específicos, como os esportes e os crimes, ou então é manifesta de outra forma que não seja a forma de violência física.
Neste sentido, há outro tipo de violência, a simbólica. Este tipo de violência não é física, mas é de comportamento, podendo ser verbal, pelas ações das pessoas, ou ainda pela discriminação racial, sexual ou religiosa que existe na sociedade. Trata-se de ações abstratas de superioridade de uma pessoa ou grupo sobre o outro. Para melhor estudar o fenômeno da violência, Eric Dunning propõe uma distinção quanto suas formas:
1. Se a violência é real ou simbólica, isto é, se apresenta a forma de uma agressão física direta ou envolve simplesmente atitudes verbais e/ou atitudes não verbais.
2. Se a violência apresenta a forma de um jogo ou simulação ou se ela é série ou real. Esta dimensão pode também ser apreendida através da distinção entre violência ritual ou não ritual, embora se tenha de assinalar que, com o devido respeito a Marsh e aos seus colegas, ritual o jogo pode possuir um conteúdo violento.
3. Se uma arma ou armas são utilizadas ou não.
4. No caso de as armas serem utilizadas, se os atacantes chegaram a estabelecer contato direto.
5. Se a violência é intencional ou a conseqüência acidental de uma seqüência de ações que, no início, não tinha a intenção de ser violenta.
6. Se si considerar a violência iniciada sem provocação ou como sendo uma resposta, retaliação a um ato intencionalmente violento, ou sem a intenção de o ser.
7. Se a violência é legítima no sentido de estar de acordo com as regras, normas e valores socialmente prescritos ou se não é normativa ou ilegítima no sentido de envolver uma infração dos padrões sociais aceites.
8. Se a violência toma uma forma racional ou afetiva, isto é, se é escolhida de modo racional como um meio de assegurar a realização de um objetivo dado, ou subordinada a um fim em si mesmo emocionalmente satisfatório e agradável. Outra forma de conceitualizar esta diferença seria distinguir a violência nas suas formas instrumentais e expressivas. (Dunning, 1992,)
Esta concepção de Dunning faz a relação entre os níveis de violência presentes na sociedade, que podem estar presentes nas práticas sociais, entre elas a ações dos indivíduos nas práticas esportivas.
Fernando (2003) mostrou que a violência ocorrida entre as crianças e os adolescentes durante as práticas esportivas em Curitiba é uma reprodução da violência instaurada na sociedade. A relação de interdependência entre o estágio atual da violência em nossa sociedade com as práticas esportivas ficou explícita nas respostas obtidas junto aos entrevistados. Portanto, verificou-se na pesquisa que o esporte isoladamente não coíbe a violência social representada na configuração dos praticantes esportivos.
Assim, a rede de interdependência deve ser compreendida na sua totalidade, não se podendo entender apenas as ações dos praticantes esportivos separadamente de outras ações sociais, principalmente no que se refere à violência física e simbólica (Mezzadri, 2002).
Bibliografia
Baron, R(1977). Human aggression. New York:Plenum.
Dunning, E. A busca da excitação. Lisboa: Difel, 1992.
Elias, N. O processo civilizador: formação do Estado e civilização. v. 2 - 2 ed. - Rio de Janeiro: J. Zahar, 1994.
Mezzadri, F. M. 2000. A estrutura do esporte paranaense: da formação dos clubes a situação atual. Tese de doutorado apresentada na Faculdade de Educação Física da Unicamp, Campinas,
Eliane Jany Barbanti

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